A bela e o dragão – Mário Quintana
“As coisas que não têm nome assustam,
escravizam-nos, devoram-nos…”
As coisas que não têm nome assustam, escravizam-nos, devoram-nos…
Se a bela faz de ti gato e sapato, chama-lhe, por exemplo, A BELA DESDENHOSA. E ei-la rotulada, classificada, exorcizada, simples marionete agora, com todos os gestos perfeitamente previsíveis, dentro do seu papel de boneca de pau. E no dia em que chamares a um dragão de JOLI, o dragão te seguirá por toda parte como um cachorrinho…
Este pequeno texto, retirado do livro Sapato Florido, de Mário Quintana, foi publicado em 1948 e fala do poder da nomeação daquilo que sentimos ou fantasiamos e, principalmente, dos temores que nos rodeiam e paralisam. Dar nome é dar significado, é colocar no campo do conhecido e poder definir quais os próximos passos e estratégias para lidar com as belas desdenhosas que insistem em nos fazer “de gato e sapato” e com os dragões que nos assombram desde pequenininhos. Conselho simples, de um poeta que sempre prezou pela simplicidade.