Conhecer – Cláudia Roquette-Pinto
Conhecer,
não estender uma idéia
na mente, não como ler
– a não ser como quem, lendo, sente
o bafo das palavras rente
ao rosto,
prende a respiração.
Tocar, percorrer o encaixe,
de cima abaixo,
de trás pra frente,
sem um senão.
Como a palma da sua mão,
a disposição dos pertences num quarto,
os nós, renitentes, nos sapatos,
a voz
de quem se ama,
quando essa mesma voz derrama numa mentira.
Chão indiferente em que se pisa,
exilado da inocência.
Pão, que se come,
de abraços,
repleto de embaraços,
no resgate de uma ausência.
Água ardente do que se experimenta,
lívido, sozinho
(o quem de dentro
não perfaz caminhos:
tremula
em seu remanso
fogo manso
que o dia não anula).
Poema retirado do livro Corola (2000), da poetisa brasileira, Claudia Roquette-Pinto.