De Frente Pro Crime

“É um velho costume da humanidade, esse de passar ao lado dos mortos e não os ver.”
(José Saramago)

Gravada no ano de 1975 por seu compositor João Bosco, De frente pro crime é um dos grandes clássicos da música popular brasileira. Com muita riqueza poética, João Bosco descreve a cena de um crime, sem ater-se ao que  motivou o ato, mas apenas como observador que percebe a multidão se aproximando de um corpo estendido no chão.

A letra abre espaço para diversas intepretações, mas o que nos salta aos olhos na imagem que a canção traz, é a indiferença de cada tipo social, voltado cada um para o seu interesse – político, econômico, profissional – perante uma vida que acaba. A frieza aparece na própria melodia, no samba que se faz sobre o “corpo estendido no chão”. Alerta para cada um nós: um convite para olharmos pelos corpos pelos quais passamos – nossos, daqueles a quem queremos bem ou de desconhecidos quaisquer – com mais sensibilidade e calor.

De Frente pro Crime
Composição: João Bosco

Tá lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém…

O bar mais perto
Depressa lotou
Malandro junto
Com trabalhador
Um homem subiu
Na mesa do bar
E fez discurso
Prá vereador…

Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então…

Tá lá o corpo
Estendido no chão

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