Pagina: ‘Vídeos e Filmes’
Onde moram os lobos?
Teo não gostava de lobos. Leo muito menos. Ao passo que quanto menos Teo e Leo desejavam encontar um lobo em sua frente, mais lobos os perseguiam pelas costas.
E acordavam todos os dias assim, e tomavam cafezinho todos os dias assim, e assistiam o futebol todos os domingos assim, e andavam para frente todos os dias assim, pensando que andavam pra frente desse modo, não notando que de todos os lugares por onde tinham passado, os lobos só não haviam ainda lhes devorado as pernas.
Teo e Leo em mesas de bar, em frente a mulheres, se diziam corajosos e corajosos se tornavam para quem estivesse em sua frente. Mas, sabe a trena que mede a coragem, que tal medida se dá pelo tamanho das costas e não pelo tamanho da língua. E as costas de Teo e Leo já nem se viam mais, tomada pelos lobos que lhes subiam na garupa.
Convidando Teo e Leo para se curvarem para consciência, refletiram: Quem é o medroso maior do que o próprio medo? O medo tem tanto medo de ser encontrado que não dá seu nome, não dá a mão, nem três beijinhos, não se apresenta. O medo que não tem cara de olhar nem na cara daquele que assusta. O medo é medroso, por isso corria atrás de Teo no corredor escuro e atrás de Leo, quando pensava no futuro.
Convite aceito. Teo e Leo perceberam a importância de otimizarem seus passos. Deixaram de correr de medo para andarem tranquilamente, com a coragem impulsionando os pés. Mirando os sonhos pendurados no horizonte. Reconhecendo que a fome dos lobos não é a sua fome e que quando param de alimentá-los, a própria fome que sentem é capaz de engoli-los.
Teo e Leo continuam sem saber de onde vêm os lobos, mas sabem que assim é que eles vão para o beleléo.
por Karla Jacobina
Assista aqui: The Clocktower (A torre do relógio)
Ela é uma engrenagem do relógio. Presa dentro da torre, ela apenas observa um mundo cheio de cores, sons, em que o tempo passa devagar. Seu trabalho é dançar. Dançar para que o tempo não pare. Quando ela decide sair da torre para ir conhecer o mundo, este mundo congela no tempo, e as cores que o compunham dão lugar ao preto, branco e cinza. Ela é quem faz o tempo girar, presa na torre. Resta a ela a escolha: ou gira o tempo, ou usufrui de um mundo sem graça, estático, sem movimento.
Um lindo e sensível vídeo da americana Cara Antonelli, produzido em 2008, que nos remete às tantas situações em que nos vemos frente a dilemas, em que qualquer uma das escolhas que façamos consiste em abrir mão de alguma coisa.
“Acidentes acontecem” (Lancaster, 2009)
Dirigido pelo australiano Andrew Lancaster, “Acidentes acontecem” conta a história dos Conway, uma família que tenta conviver com as lembranças de um acidente de carro que faz parte de uma trama de acidentes que levam uns aos outros. Sim, tudo começa com a morte do vizinho e na tentiva de evitar traumas no caçula da família que presenciara o acidente, dá-se uma série de infortúnios.
Mas no fim de tudo, isto é, passada quase uma década, talvez uma série de coincidências que parecem ser surpresas desagradáveis do acaso, possa ser o caminho e a chave para algo muito bom. É isso que narrador da história promete logo no início: um fato ruim às vezes acontece para que lá na frente um bom possa vir compensá-lo, difícil é a espera, o intervalo entre um e outro acontecimento, e os pequenos acidentes necessários, para que tudo corra bem.
Assista aqui: “The piano”
É um belíssimo instrumental do francês Yann Tiersen, que também faz parte da trilha sonora de “O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain”, que faz o personagem principal de “The Piano” dar vida às mais antigas memórias: as saudades do amor, a frieza da guerra, as brincadeiras da infância, os presentes que a vida lhe deu e as pessoas queridas de quem ele teve que despedir-se. O vídeo é do inglês Aidan Gibbons, produzido em 2005, ainda como trabalho de faculdade.
A beleza da música e a delicadeza das imagens nos levam a pensar também nas cenas de nossa história que nem uma vida muito longa pode afastar de nós. Por vezes, elas permanecem guardadas por um tempo, até que descubramos aquilo que as convida a vir à tona, a transbordar. A nota mais bela da música, talvez seja a última, aquela que nos traz de volta para o presente e nos lembra de que, embora muitos dos que mais nos eram caros já não estejam tão próximos, não estamos sozinhos…
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Assista aqui: Alma (Espanha, 2009)
Alma é o primeiro curta de animação dirigido pelo espanhol Rodrigo Blaas, premiado em diversos festivais internacionais. A animação, sem nenhuma palavra falada, apenas com atitudes, olhares sinistros e que inspiram suspense, alguns nomes escritos a giz em um muro e belíssimas imagens e trilha sonora, conta a curta e assustadora história de Alma, uma garotinha em meio a um inverno gelado que encontra uma loja de brinquedos, um tanto quanto diferente.
As leituras do pequeno conto podem ser diversas. Em muitas mitologias encontra-se a referência a pessoas que ficariam “aprisionadas” em algum objeto. Numa leitura um pouco mais atual e considerando que a boneca com quem Alma se identifica está dentro de uma vitrine, podemos pensar na questão do consumo. Quando olhamos para o que as vitrines nos expõe e nos vêmos ali, não será o primeiro passo para que aquilo que somos se transforme também em mero produto, exposto entre os demais em uma estante qualquer?
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Assista aqui: “Juxtaposer”
A animação criada e dirigida pela americana Joanna Davidovich nos apresenta um garota solitária, sentada no banco da praça, escondida atrás de seu jornal, por quem passa um mundo cheio de diversidade. Esse mundo passa alheio a ela. As tentativas de inserir-se são muitas; mas e a coragem para aproximar-se dos outros, onde encontrá-la?
Quando as possíveis companhias passam em grupo, a garota percebe-se muito diferente delas. Quando passam sozinhas e poderiam sinalizar uma possível amizade, logo chega quem lhes acompanhe antes que a menina desse o primeiro passo. Mas um gato de humor bastante volátil, pode fazer com que ela explore sua capacidade de conquistar, e a solidão dê lugar à amizade…
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“Ensaio sobre a cegueira” (Meirelles, 2008)
Na sessão “Caminho de Letras”, postamos hoje um texto em homenagem ao escritor português José Saramago, falecido nesta manhã. Nesse texto, citamos uma de suas principais obras, adaptada para o cinema em 2005 pelo brasileiro Fernando Meirelles: Ensaio sobre a cegueira.
O filme é bastante fiel à trama criada por Saramago. Imagine se, misteriosamente, todos fossem acometidos por uma cegueira repentina. O que estaria em jogo? Como nos organazaríamos privados deste sentido que tem recebido primazia em nossa cultura e determinado a forma de ser humano que conhecemos? Essas são as primeiras das muitas perguntas que Saramago lança em seu livro e que Meirelles traduz para o cinema.
Uma das exigências de Saramago para que concedesse a autorização para a filmagem foi que não fosse possível reconhecer em que país a trama se passa. Para isso, o elenco contou com atores de diversas nacionalidades e as cenas externas foram gravadas em cidades como São Paulo, Madrid e Tóquio, como se não houvesse uma cultura ou nação que abrigasse o roteiro, mas como se todo o mundo fosse um único só lugar.
Brilhante, a obra nos provoca diversas reflexões sobre a moral, a ética, os valores e a capacidade de enxergar a si mesmo e aos outros que nossa cultura tem perpetuado. Assista o filme e não deixe de conhecer também a obra de José Saramago.
Antes que termine o dia (Junger, 2004)
Antes que termine o dia conta a história de um casal que tem pouca coisa em comum: Ian, um executivo inglês aficcionado pelo trabalho e Samantha, uma cantora romântica que dedica-se exaustivamente ao relacionamento com Ian. Em meio a brigas que surgem por conta dos diferentes estilos de vida, o namoro chega ao fim. No entanto, um desses acontecimentos de que a vida não dispõe, mas a ficção sim, dá uma segunda chance a Ian para que ele repense as escolhas que vinha fazendo. Depois de um acidente, ele acorda no dia anterior e pode tomar um novo caminho.
E se nos fosse dada a chance de viver outra vez um dia de nossa vida em que perdemos algo muito importante: faríamos as mesmas escolhas?
Assista aqui: “Kutoja”
Kutoja – The last knit é um curta-metragem em animação, escrito e dirigido pela finlândesa Laura Neuvonen. Com a leveza típica dos desenhos animados, apresenta uma mulher que tricota compulsivamente. Tricota até o último novelo de lã. Seu comportamento vai tornando-se tão disfuncional que o próprio produto de seu tricotar puxa-a para baixo, para o abismo. Curiosamente, parece ser também a obsessão que a mantém viva.
Conseguirá ela libertar-se de suas agulhas? E se conseguir, será isso o bastante?
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Antes de Partir (Reiner, 2007)
“Antes de partir” traz um tema que já foi abordado pela arte em diversas linguagens. Ele nos lembra a velha pergunta: o que você faria se fosse morrer amanhã? O tema sempre nos bate a porta, mas não importa quantos artistas e comunicadores nos tragam esta pergunta, sua resposta não se apropria de nós. Respondemos, e logo mais estamos voltados aos nossos afazeres, como se não fossemos morrer jamais.
Lembrar de nossa finitude pode ser pretexto para viver de forma irresponsável sem pensar no futuro, mas em geral, quando entramos em contato com essa realidade, o impulso que aparace é o de olhar para a imensa lista de coisas que temos deixado de lado – ou deixado para amanhã – durante a nossa vida, e realizá-las.
No filme, dois pacientes de um hospital, já no fim de suas vidas, resolvem fazer uma lista do que desejariam realizar, e sem pensar que “já é tarde”, partem para uma aventura, pelo mundo, e por tudo aquilo que ficou pendente em suas histórias.
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