Pagina: ‘Palavras Cantadas’
Her morning elegance
“And She fights for her life
As she puts on her coat…”
O vídeo abaixo foi o que alavancou o sucesso da música “Her morning elegance”, do cantor e compositor israelita Oren Lavie. A música, aqui traduzida, mas originalmente gravada em inglês, fala de uma mulher que “luta por sua vida” nas pequenas ações do cotidiano e cercada por detalhes que pintam de beleza os seus dias sem sol.
O vídeo mostra a mulher – talvez a mesma da canção – em sua cama, vivendo o seu sonho/realidade e realizando suas atividades cotidianas, sem se levantar dali. Não é ela que passa pelos lugares, que cruza com as pessoas ou as procura, é a vida que passa pela cama dela, enquanto ela dorme. Mais que a música, o clipe nos permite uma reflexão sobre a postura ativa ou passiva que adotamos perante o cotidiano e o significado que damos às atidudes dos outros. Mesmo atos que parecem pequenos ou pouco importantes, podem representar para alguém uma forma de “lutar pela vida”. Como diz a música, ela luta por sua vida em suas pequenas ações e ninguém sabe…
Eu Preciso Aprender a Só Ser
“Eu sei que no fundo o problema é só da gente.
É só o coração dizer não, quando a mente
Tenta nos levar pra casa do sofrer…”
“Eu preciso aprender a só ser” foi composta por Gilberto Gil na década de 70, fazendo uma interlocução com o samba “Eu preciso aprender a ser só”, composição de Marcos e Paulo Sérgio Valle, que ficou famoso na voz de Elis Regina.
A letra aparece em um tom de desabafo, tão íntimo que dispensa a canção. Parece que o autor se aproxima de nós e nos diz, cansado, que não é importante aprendemos tantas normas de conduta – como andar, onde ir, o que dizer – a lição é bem mais simples: precisamos aprender a só ser.
O jogo de palavras com a canção conhecida que fala sobre se acostumar com a solidão não é por acaso: será que estas normas todas que nos ensinam, não nos conduzem justamente a solidão? Será que não temos ensinado, uns aos outros, a sermos sozinhos?
Gilberto Gil, então, ensina que quando a mente tenta “nos levar para a casa do sofrer” , temos que aprender apelar ao coração e encontrar em nós aquilo que nos impulsiona a aprender a ser. E vale lembrar que ser humano, é necessariamente, ser junto com o outro: o humano não é na solidão.
A seguir encontram-se a letra e um vídeo com a música.
Shimbalaiê
“Quando mentir for preciso, poder falar a verdade…”
Esta música é a primeira composição de Maria Gadu, cantora que despontou no rádio e na televisão este ano. Foi composta quando ela tinha apenas 10 anos de idade. A letra simples traz algumas construções bastante infantis misturadas a outras cheias de poesia.
A menção ao pôr do sol e ao mar nos remetem a ideia de tranquilidade e de religação com a natureza. A última estrofe coroa a canção ao falar desta personagem que se encanta com os detalhes e tem o pensamento tão livre quanto o céu: a cidadã do mundo. Alguém que não coloca barreiras nas possibilidades de imaginar, também supera com mais facilidade as barreiras físicas, as fronteiras entre um lugar e outro, e encontra a sua verdade…
Aprecie abaixo a letra e música, de Maria Gadu.
Paciência
“A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência.”
(Lenine)
A nossa relação com o tempo volta a ser tema nesta música de Lenine. A letra é belíssima e comtempla a tensão que existe entre a espera – e a paciência que ela exige – e a ação. Será hora de esperar ou hora de agir? Esse dilema nos acompanha, principalmente, em uma sociedade que acelera o tempo, em um mundo que gira cada vez mais veloz.
Paciência
(Lenine/Composição: Lenine e Dudu Falcão)
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára…
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara…
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência…
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência…
Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara…
Ciranda da Bailarina
“Sala sem mobília,
Goteira na vasilha,
Problema na família,
Quem não tem?”
(Chico Buarque e Edu Lobo)
Ao invés de disponibilizar a letra de Ciranda da Bailarina, composição de Chico Buarque e Edu Lobo, gravada em 2004 por Adriana Calcanhoto, posto aqui o link para um blog em que foi publicada não só a letra, mas também uma crônica interessante sobre o que nos diz essa canção.
Será que não tentamos às vezes ser esta bailarina que não tem piolho, nem remela, que não tem medo de cair e nem problema na família? E, cá entre nós, erá que ela existe?
Conheça o texto de Iraci Harich Redivo, clicando aqui.
Tocando em frente
“Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz”
Tocando em frente
(Almir Sater e Renato Teixeira)
Ando devagar por que já tive pressa
E levo esse sorriso por que já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe,
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Nada sei.
Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou.
Todo mundo ama um dia todo mundo chora,
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz.
Oração ao Tempo
“Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo Tempo Tempo Tempo
És um dos deuses mais lindos.”
(Caetano Veloso)
O título da música nos sugere um caráter religioso para essa canção, mas a única religião que aqui professa Caetano Veloso, é a que se remete ao sentido primeiro desta palavra. Religião tem suas raízes em religare, que significa religar.
Caetano dirige-se ao tempo como “o mais lindo dos deuses” e convoca que nos religuemos a ele. Será que não somos muitas vezes indelicados com tempo? Será que não tentamos nos apressar e desrespeitamos o tempo que nosso corpo nos pede, atropelando-o com as imposições que a sociedade e a cultura nos colocam? Muitas vezes o sofrimento físico e mental tem início neste descompasso.
A poesia de Caetano Veloso ressalta características do tempo muitas vezes contraditórias e faz uma homenagem ao “compositor dos destinos”. Clique abaixo e acompanhe a letra completa da canção de Caetano.
Miedo
“Medo de morrer na praia depois de beber o mar.
Medo… que dá medo do medo que dá”
(Lenine)
A mistura do espanhol de Julieta Venegas, com o português de Lenine, descrevem nesta versão da música “Miedo”, os possíveis objetos que nos assustam.
O interessante é que eles apontam dezenas de motivos que temos para temer, mas muitas estrofes terminam em “medo, que dá medo do medo que dá“. Este verso, além da sonoridade interessante nos leva a pensar se às vezes o que mais nos assuta não é próprio o medo.
Esse sentimento que nos permite se aproximar dos riscos e perigos com cautela, ás vezes incomoda e paralisa, ao ponto de apenas a possibilidade de nos defrontarmos com uma situação arriscada já nos colocar em contato com ele.
Abaixo, você encontra, na íntegra, a versão da música interpretada por Lenine e pela cantora venezuelana, Julieta Venegas.
A Lista
(Oswaldo Montenegro)
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia?
Quantos você já não encontra mais?
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre,
Quantos você conseguiu preservar?
Onde você ainda se reconhece,
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava,
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava,
Hoje são bobos ninguém quer saber!
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo,
Eram o melhor que havia em você!
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?
Milágrimas
(Zélia Duncan e Anelis Assumpção / Composição: Itamar Assumpção)
Em caso de dor, ponha gelo
Mude o corte do cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso
Ainda que amarelo
Esqueça seu cotovelo.
Se amargo for já ter sido
Troque já este vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério, deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido.
A cada milágrimas sai um milagre.
Em caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra apenas, viva apenas.
Sendo só fissura, ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena, reze um terço
Caia fora do contexto, invente seu endereço.
A cada milágrimas sai um milagre.
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas, três, dez, cem mil lágrimas, sinta o milagre
A cada milágrimas sai um milagre.