Uso indevido de Drogas nas Escolas Públicas de São Paulo

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A discussão sobre uso e abuso de substâncias psicoativas, especialmente as ilícitas, tem ocupado lugar de destaque social nas últimas décadas (Aquino;1 Cotrim7). Segundo Carlini et al,5 no I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, excetuando-se tabaco e álcool, 19,4% da população pesquisada já fizeram uso de drogas, na vida; o uso de álcool na vida foi estimado em 68,7% da população e a estimativa de dependentes de álcool foi de 11,2%. Em levantamento realizado nas 24 maiores cidades de São Paulo, Galduróz et al10 encontraram que 11,6% da população pesquisada fizeram uso na vida de drogas, excetuando-se tabaco e álcool. Nesse estudo, o uso na vida de álcool é relatado por 55,6% da população e a prevalência de dependentes de álcool encontrada foi de 6,6%, sendo 10,9 entre os homens e 2,5% entre as mulheres . Segundo o IV Levantamento sobre o Uso de Drogas entre Estudantes, o total estimado de uso de drogas na vida, excetuando-se álcool e tabaco, entre estudantes da rede estadual em São Paulo, foi de 19%; o uso freqüente relatado foi de 2,4% e o uso pesado foi de 1,6% (Galduróz et al11).

O enfretamento deste problema tem pelo menos duas vertentes (Moreira et al17). Tradicionalmente a postura adotada é a de guerra às drogas, a qual prega a erradicação do uso, utilizando técnicas de divulgação que privilegiam informações sobre danos à saúde e o amedrontamento (Araújo & Moreira;3 Cotrim7). Estudos de avaliação têm mostrado, entretanto, que tais técnicas não são eficazes (Neubern;18 Cuijpers8). Uma alternativa tem sido a postura de redução de danos, com objetivo de não eliminar o comportamento aditivo, mas melhorar o bem-estar físico e social dos dependentes.

A outra vertente é a redução de riscos, focada na prevenção dos riscos relacionados ao uso das substâncias (Soares & Jacobi;21 Cotrim7). Ambas são componentes de um continuum, o qual tem sido considerado como um novo paradigma de abordagem no campo das drogas (Moreira et al17), onde o foco das ações preventivas recai na qualidade de vida ao invés do uso da droga (Moreira & Andreoli16). As informações divulgadas se concentram menos nos perigos e mais na equação do uso racional, responsável e nas vantagens de um estilo de vida sem elas (Soares & Jacobi21).

Muitas técnicas de prevenção têm sido preconizadas dentro dessa postura, uma delas propõe um modelo de modificação das condições de ensino em cinco vertentes: a) modificação das práticas institucionais; b) melhoria do ambiente escolar; c) incentivo ao desenvolvimento social; d) oferecimento de (ou parceria com) serviços de saúde e, e) envolvimento dos pais em atividades curriculares (Moreira & Andreoli;16 Cotrim7). Aplicadas à situação dos jovens carentes e pouco assistidos, tal como é o caso da grande parte dos que freqüentam a escola pública no Brasil, podem trazer benefícios secundários para além da prevenção (Klitzner et al14), incluindo a preparação para a cidadania. Nesse sentido, a legislação brasileira em educação (Lei Federal n. 9.394, de 1996) é avançada, pois propõe modificações no ensino fundamental com esse objetivo,* incluindo assuntos voltados ao cotidiano dos alunos no currículo escolar, os chamados temas transversais. Trata-se de “… um núcleo de conteúdos, ou temas, reunidos sob a denominação geral de ‘Convívio Social e Ética’, em que a ética, a pluralidade cultural, o meio ambiente, a saúde e a orientação sexual passariam a serem trabalhados nas escolas transversalmente aos conteúdos tradicionais” (Araújo2). Caso fosse efetivamente adotada, seria adequada às propostas de prevenção ao uso de drogas, entretanto há dificuldades na sua concretização (Inoue et al13).

As intervenções preventivas mais freqüentemente adotadas, entretanto, caminham na direção oposta. Um exemplo é o programa educacional de resistência às drogas e à violência, que pode ser caracterizado como um modelo derivado da proposta de “guerra às drogas”. É similar ao programa americano de educação para a resistência ao abuso de drogas (DARE), o qual já foi amplamente avaliado e mostrou-se ineficaz (Cuijpers;8 Ennett et al9).

O presente estudo parte, portanto, da hipótese de que existe um descompasso entre a discussão acadêmica e o conhecimento, comportamento e atitude da população geral, incluindo aqueles responsáveis pelas atividades curriculares ou extracurriculares nas escolas. Assim, visando à aproximação deste universo, foi realizado o presente estudo com o objetivo de investigar as situações, atitudes e comportamentos dos coordenadores pedagógicos das escolas municipais de ensino fundamental (EMEF) relacionados ao uso indevido de substâncias psicoativas.


por Fernanda Gonçalves Moreira; Dartiu Xavier da Silveira; Sérgio Baxter Andreoli

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Fonte: Revista de Saúde Pública

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